TEMPO BREVE


A fronteira entre o nosso presente e o nosso futuro é muito breve. Vivemos continuamente em direcção a algo que projectamos e pensamos, mas que vem envolvido continuamente em incertezas e surpresas. Talvez seja esta a nossa condição principal e o saber que, de facto, não vivemos numa estabilidade plena. O que poderá trazer medos, mas também gestos de confiança. Sobretudo estes últimos são os mais importantes.
Estes dias tenho vivido, na comunidade paroquial, uma experiência de confronto com o futuro, na circunstância da morte totalmente inesperada do Paulo Castanheira. Já mais supunha estar a escrever e a meditar, que o fim estaria tão próximo, de alguém que nos era tão próximo na amizade.
S. Paulo, numa das suas cartas, diz que o tempo faz-se breve. Não é só que passe depressa, mas sim que este se recolhe, como as velas de um navio. O momento presente está carregado de todo o cumprimento futuro e, naquilo que hoje somos, está escondido o Mistério do que podemos ser, a nossa energia vital mais preciosa, o Bem que podemos ser já agora no mundo, independentemente do que projectamos.
Estas alturas são toques de eternidade!
Transformam o tempo em qualquer coisa além do tempo, e transformam o espaço em qualquer coisa que vai além do espaço, uma paisagem de sonhos e memórias que dizem quem somos e para quê existimos. Chamados por Deus à vida; Chamados na vida a servir…; Chamados por Deus a juntarmo-nos a Ele.
Acordar cada dia é um compromisso com o limite e o andar além dele, é a esperança que se pode concretizar, o existir em amor que é servir, na simplicidade e no acolhimento.
Fica a Esperança deste acreditar que vence tudo e transforma todas as coisas: «na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dá muito fruto» (Jo. 12,24); Deus que é por nós, saberá tirar o Bem do mal, porque da morte ele dá a Vida.
A seu tempo, o grão germinará...